sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Novos tempos ou tempos novos: das novas possibilidades digitais à construção do fazer docente

Como é tão natural nesses dias o contato das crianças com computadores, celulares, enfim, com os mais diversos recursos digitais. Tem-se impressão de que os neoviventes já nascem capacitados para lidar com esses meios. Essa constatação me leva a recordar que somente aos 16 anos toquei em um computador e com 21 tive um celular, o que parece inconcebível hodiernamente.

Quando a questão é o universo digital e a educação, somos levados à percepção de que a escola está atrasada frente aos novos estudantes. Ainda que desde cedo as crianças tenham, na escola, contato com essas possibilidades digitais, vê-se que essa instituição ainda não sabe potencializar o uso desses artefatos o que leva a crer que é demais vislumbrar os professores produzindo conteúdos digitais.

Cada afirmação faz sentido a partir da significância do lugar de quem afirma. Minhas experiências com novas possibilidades levam-me a crer que a situação normal é a conformação dos novos recursos ao jeito tradicional do professor, todavia, encanta-me a ideia de ver o professor mudar, ter outra postura e, potencializar sua ação docente utilizando como recurso as novidades especialmente oferecidas pelos recursos digitais.

Minha resistência em acreditar em uma não conformação por parte de professores às práticas viciadas obriga-me a uma ligeira anamnese quanto à questão. Recordo-me que em meus anos escolares a grande revolução foi uma sala de vídeo, com uma TV instalada para que os professores pudessem utilizar como recurso pedagógico. Ficávamos na expectativa de assistir a um filme que correspondia aos temas ensinados. A educação estava avançando, pois estávamos saindo do quadro e giz, o que nos fazia brilhar os olhos. No entanto, aquilo que parecia a maior revolução, tornou-se empecilho: muitos professores faltavam pelos motivos mais estapafúrdios, e a solução? Todos para a sala de vídeo assistir qualquer coisa, ou mesmo filmes já vistos etc. Rapidamente percebemos que a existência daquele espaço na escola significava a passagem de um ideal qualificado de aprendizagem à cansativa perda de tempo!  Ora, os momentos de aula com quadros cheios de textos, em muito, foram substituídos por horas e mais horas de filmes ou, raramente, apresentações acerca dos temas estudados.

As novidades continuaram surgindo e novos recursos puderam ser utilizados pelos professores. Nesse transcurso o data show substituiu a sala de vídeo. O quadro de cimento e o giz de gesso deram lugar ao quadro a pincel e os slides. O pior é que não poucos professores que escreviam em todo o quadro e apagavam antes que os estudantes copiássemos, reproduzíssemos em nossos cadernos surrados, agora o faziam com os slides: ganharam uma potencial arma para encher o quadro de texto! Cotidianamente, muitos professores se relacionam assim com o que podia significar contribuição: adaptavam as novidades ao tradicional mais do mesmo de seus fazeres docentes eliminando toda significância positiva que as novas tecnologias pudessem representar.

Observando o histórico recente e as repedidas estratégias para ajustar às suas maneiras os novos recursos, é difícil aceitar como uma possibilidade próxima que os professores se empenharão em produzir conteúdos via mídias digitais. Também é verdade que, ainda que isso possa não acontecer, não se pode esperar que os atuais educadores se tornem aqueles que farão uso desses recursos e produzirão material contextualizado para o trabalho docente. Toda mudança leva tempo. E, sendo a escola um dos espaços mais resistentes a mudanças, é difícil acreditar que tão rapidamente aconteça uma radical mudança nas práticas educativas.

Se, para Nietzsche, a esperança é o pior dos males, ou a última que mata, prefiro acreditar que os atuais estudantes universitários em posse de formação específica, de encantamento, e compreensão de que os novos recursos digitais não representam “trabalho a mais”, mas uma forma excepcionalmente brilhante de ensino e aprendizagem no transcurso dos dias! Aqui está a grandeza de um curso acerca de recursos digitais com esse foco na formação de novos educadores. A pergunta subsequente é: quantas universidades, academias têm a consciência da relevância dessa formação aos professores do século XXI? A resposta, sem verificação, dá a entender que pouquíssimas, o que mais leva a acreditar que é, ainda, um caminho longo a percorrer!


sexta-feira, 3 de julho de 2020

Sobre a pertinência do uso de recursos digitais no cotidiano...

É quase certo que todo mundo(!) dirá, sim, é pertinente, é importante e necessário o uso de recursos e mídias digitais. Com perguntas contrastantes, logo se visualizará os respondentes tergiversarem e, por um motivo muito simples: para a imensa maioria das pessoas o uso contínuo, corriqueiro e repetitivo de redes e recursos digitais é um problema, ocupa o espaço de preenchimento do vazio, desembocando num pretenso niilismo.

Pode-se afirmar que é um desafio regrado a tempo perdido, a aprendizagem do domínio que os recursos e mídias digitais causam sobre o indivíduo que as domina. Não poucos se veem completamente dominados, "viciados" no uso desses recursos.

É verdade, também, que os recursos digitais, se bem conhecidos e "dominados" podem se configurar em grande contribuição ao trabalho, ao estudo, enfim, à vida de quem os instrumentaliza inteligentemente. Nesse sentido, não somente é interessante o uso de recursos digitais cotidianamente, mas necessário, afinal, os recursos positivados, tornaram-se instrumentos de trabalho.

Profissionalmente, como supra evidenciado, os recursos digitais podem incorrer em qualificação no trabalho a quem os dominar, ou seja, o ser profissional pode ser qualificado por esses meios. A identidade profissional, portanto, utilizar-se-á de um importante recurso para sua formação e fundamentação.

Imperatriz-MA, 03 de julho de 2020