Parei para pensar (não se pode pensar em movimento?). Por cinco minutos deixei para trás os maiores pensadores da história. Pobres filósofos frente àqueles poucos minutos que me haviam ocupado os neurônios. O princípio básico era desconstruir tudo que fora construído sobre verdades ditas inquestionáveis. Começar pelo ser humano era o caminho mais lógico. Quem é? O que é? Por que é? Para o que é? Ele é? O senso comum me deu um prato cheio de respostas fáceis.
Não encontrar respostas fixas só pode ser regra geral quando se pensa em críticas a sistemas, modelos, ou mesmo em elaboração de base de tradições, ideologias, etc. Não conheço “verdade” que não tivesse de ser atualizada (como é possível se atualizar a verdade se ela é o máximo de si?) para sobreviver à história.
O ser humano também necessita urgente se atualizar, atualizar seus princípios, atualizar as suas verdades inquestionáveis. Mesmo que não queira ele vai sendo posto frente a situações que o faz pensar seriamente sobre o que construiu. Mas o que foi construído em toda sua existência, havia como não ser construído? Não é parte de sua própria natureza, transformar? Mudar realidades? Construir artifícios?
Natureza do ser humano. Ele tem natureza? Ou ele é natureza? Ele faz parte do mundo ou é mundo? O ser humano é racional ou irracional? Ou é racional e irracional?
Nos bate à cara a urgência de cuidarmos do nosso planeta. Mas quem está dizendo isso? A humanidade inteira está percebendo que o planeta já não suporta tamanha quantidade de lixo, de destruição, de poluição. É a natureza se vingando de um ser que sempre se achou à parte dela. Como não estar acima da natureza se ele foi criado para dominá-la? Certamente foi esse o primeiro pensamento de nossos antepassados.
Foi necessário que nosso planeta começasse a dar sinais seríssimos de que já não suporta tamanha destruição para que percebêssemos que somos parte do todo que ele é, e que seu fim também é o nosso fim. A tosse tuberculosa do planeta faz-nos ver que somos natureza e que só sobreviveremos freando esse ciclo destruidor que sustentamos. Depois de muitos anos, só agora estamos assumindo que somos natureza e não algo à parte.
Assumimos a poucas centenas de anos que a razão seria o princípio que regeria o que antes era comandado pela fé (na verdade as máximas da Igreja). Se fizermos um balanço do que produziu esta dita racionalidade, veremos que todo o fruto, na verdade (de modo geral) não passou de irracionalidade. Como justificar a irracionalidade no mundo dos negócios, da política, das relações internacionais? Até que ponto essa dita racionalidade ajudou o ser humano a ser mais livre, mais humano? O dito irracional, há anos, pode ser visto hoje como a forma mais racional possível. Os valores, princípios de cuidado e de pertença, relegados pela dita razão de outrora, assume hoje a identidade de verdadeira razão, pois são os princípios que nos faltaram na história para que não chegássemos onde a dita razão de outrora (mas, “irrazão” agora) nos levou.
O ser humano que sempre se viu no direito de dominar, uma vez que se entendia como acima da natureza, tem de ser ver cada vez mais como natureza, como membro do todo do universo. Como natureza, não pode mais querer acabar com a natureza da qual ele é constituído e a qual constitui. Isso é suicídio. Esse mesmo ser humano que há muito se entende como racional, pois é capaz de pensar e encontrar as melhores soluções tem de se dar conta que as sensibilidades, o sentimento de cuidado e de pertença, a própria fé que cuida e preserva, são válidos e devem ser levados em conta, do contrário caminharemos cada vez mais para perto do precipício e na queda, é certo o fim.
Porto Alegre - RS, 2007.
Publicada no livro:
"Crônicas à Beira do Caos" da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Rio de Janeiro: CBJE e BrLetras, 2007.
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