(IMAGEM: José Heber de Souza Aguiar, 03/08/2010)
São sete horas da manhã e essa cidade gélida não faz jus a seu nome: Estrela é fria, terrivelmente fria. Terei eu acordado sobre uma montanha de neve de algum país nórdico?
São sete horas e eu em meu quarto quente a fitar através da janela de onde grita incansável, um martelo também frio, suspenso por uma mão fria de um corpo esguio, que muito bem se esconde sob tantas roupas e luvas e pitadas sôfregas num cigarro desgastado. Será um Pedro? Um Antônio? Um Francisco? Quem sabe... O certo é que é um pedreiro que não tem a opção de ficar num quarto quente de uma casa fria, pensando sobre a crueldade do frio para dizer que hoje Deus amanheceu preguiçoso. Pensando bem, pode se tratar de um José. Um José da Silva? Há tantos Josés da Silva neste Brasil que é muito possível que esse seja mais um. Se bem que em Estrela não há lá muitos Silvas.
São sete horas de uma manhã gelada e o nosso José não sei de que (será mesmo da Silva?) usa, incansável, seu martelo. De seu rosto escorrem gotas de suor que, gestadas espremidas do calor sofrido de seu corpo, padecem frias... No que pensará esse José? Na Maria? No João que tem brigado na Escola? Na conta de luz com o prazo de pagamento vencido? Na mulher que exige há meses mais um cômodo na casa? Ou pensará em Deus que o ajudará a melhorar de vida, afinal, está trabalhando tão cedo, neste frio de um grau. Se Deus ajuda a quem cedo madruga, haverá de não esquecê-lo... Pobre José, pai da Maria e do João, parece não perceber que suas orações às sete horas de um dia frio, não são ouvidas. Deus tem expediente, José!
São sete horas da manhã e eu num quarto quente de uma casa fria, assistindo ao meu xará José com uma vida quente numa manhã tão fria, pensando em Deus, que bondoso é sempre, mas não acordou cedo hoje e não ligou o climatizador da terra para o lado de cá do globo. Em compensação, tem um José, pedreiro, se queixando do excesso de calor que faz do outro lado... Agüenta aí, meu pai, que não demora muito Deus acorda!
José Heber de Souza Aguiar, Estrela-RS, 03/08/2010
Bela crônica.
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