Ainda ontem disse a um amigo que para se tomar uma decisão importante pela seriedade é preciso fazê-lo num dia após tomar um porre de vinho. Meu amigo, no entanto, retrucou afirmando que precisaria da razão para poder tomar uma decisão séria. Já havíamos tomado uns bons goles de vinho e falado sobre o que é racional. Não me aquietei com a resposta dele e procurei afirmar automaticamente que após o tal porre se está mais racional que em outros momentos, pois é quando se pode tomar uma decisão sem se valer tanto pelo que não é racional, pelos desejos, instintos. Não queria dizer que para pensar algo sério seria necessário o dia após o vinho. Com minha afirmação queria eu dizer que para assinar uma decisão já pensada e refletida, mas a qual não se teve coragem de assinar, de fazer acontecer, seria importante fazê-lo depois de um porre.
Tomamos ontem um bom vinho! E hoje é domingo. E domingo não se precisa acordar cedo. Eu não acordo cedo, geralmente. Sempre vou à missa antes do meio dia. Hoje não fui à missa antes do meio dia. Minha cabeça doía. Quase explodia. Literalmente eu não tinha condições de pensar nada que fosse sério. Decidir por algo já pensado eu conseguiria, sim. Minha tese estava confirmada.
Hoje eu estava cético. Há muito tempo não me pegava tão cético como hoje. Pensei sobre quase todas as coisas do mundo! Não eram coisas sérias, então pude pensá-las. Somente hoje fui político, fui pai, fui amante, fui monge, fui ateu, fui cangaceiro, fui poeta, fui filósofo, fui um lixo. De tudo que fui continuei sendo o mesmo de todo dia: um nada! Nunca estive tão niilista como hoje.
Hoje eu não estava bem, talvez por isso mesmo fui tantas coisas. Queria ser mais do que sou, para me sentir melhor. Não estava mal por causa do vinho, confesso! Tenho andado cansado, estressado!
Tenho estado angustiado com a vida humana, com o sentido de viver para tanta gente. Trabalho com pessoas e vejo-as diariamente brigando por coisas fúteis, fingindo ser o que não são para serem aceitas nesse mundo de falsas faces.
Agora já são vinte e três horas. Depois que eu escrever essas angústias para não esquecer que um dia as tive, vou deitar e dormir. Espero amanhã acordar inteiro. Infelizmente espero estar menos cético. Preciso acordar religioso, mais esperançoso, mais humanista! E quando o estresse me derrubar outra vez, voltarei a tomar uns goles de vinho para que eu possa ver a possibilidade de ser outras coisas outra vez. Quando o cansaço me vencer vou viajar em busca de uma nova verdade. Ainda que eu não a encontre vai valer a busca, o percurso, o caminho. Se é a absoluta verdade, não sei, mas é a verdade que só posso encontrar após o vinho!
José Heber de Souza Aguiar
Canoas-RS, 04/10/2009
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