O insucesso transforma-se numa oportunidade de grandes conquistas se usado com inteligência e como momento de recomeçar. Ele faz parte da vida de quem arrisca, projeta, cria. Não recomeçar frente ao insucesso é entregar-se ao fracasso.
O insucesso faz parte da vida. Nós sentimos seu peso quando por muitas vezes não alcançamos objetivos planejados. Frente a essa experiência desoladora é necessário experimentarmos o ideal do recomeço, uma vez que o insucesso não pode ser o fim de um projeto no qual investimos tantas energias e expectativas.
Somente recomeçando na vida, repensando nossos projetos, refazendo meios para concretizá-los... Etc. superamos nossos insucessos e abrimos novos caminhos, pois recomeçar é abrir novos caminhos.
Na vida temos muitas oportunidades. Elas exigem esforço e iniciativa. Exigem inteligência, sabedoria e disposição para a possibilidade de uma nova frustração. Não podemos ter medo de encararmos desafios em virtude da possibilidade do insucesso, pois ele só existe onde há tentativa de conquistas, de realização de projetos.
Quando fazemos profunda experiência de não conseguirmos nossos objetivos, sentimo-nos fracassados, com o sentimento de nunca podermos alcançar o que tanto queremos. O fracasso é a conseqüência de não recomeçarmos frente ao insucesso. Recomeçar nos alimenta. Em cada ato de recomeço, damos adeus ao sentimento de fracasso e nos nutrimos com o sentimento de quem é capaz de vencer as dificuldades que a vida apresenta.
Recomeçar é a receita do sucesso. Se numa primeira tentativa nos frustramos, desistir de uma nova tentativa pode ser o aborto de uma grande obra. Frente a essa frustração cabe-nos usar nossa inteligência para repensarmos o caminho e recomeçarmos. Recomeçar é um ato de grandeza que só quem viveu o insucesso pode experimentar.
Porto Alegre – RS, 08/05/2007
domingo, 4 de agosto de 2024
Uma crítica ao utilitarismo ético
“A melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos”. Essa frase do filósofo escocês, Francis Hutcheson, dá a linha mestra do utilitarismo ético. No entanto, os expoentes do utilitarismo ético são os ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill, falecidos em 1832 e 1873, respectivamente. Mas afinal, o que é o utilitarismo ético? O que ele visa? Onde percebemos sua aplicação na sociedade? Qual sua implicância para o indivíduo? Buscaremos fazer aqui uma reflexão crítica do utilitarismo ético tendo como base teórica principal o capítulo sete do livro “Ética”, do filósofo da libertação espanhol-mexicano Adolfo Sánchez Vázquez.
O que é o utilitarismo ético? O que ele defende? A sua designação, de princípio, nos remete a algo que é útil. O uso ou a aplicação do que é útil, geralmente é pensado a partir do particular, do indivíduo. Nesse caso, ligamos esse algo útil ao indivíduo, seu desejo, o que para ele é o bom. Precipitamo-nos pensando assim; o utilitarismo é justamente, em primeira instância, a anulação do desejo do sujeito em benefício do interesse do maior número possível de pessoas. O utilitarismo ético é o bom como o útil, onde não é o interesse do indivíduo que é considerado em primeira instância, mas sim o objetivo maior de uma sociedade, do Estado, ainda que os meios para que o maior número seja beneficiado, resulte na anulação, ou até a morte do indivíduo. A felicidade para o maior número possível é o que importa, independentemente dos meios usados para tal objetivo.
O utilitarismo aceita a morte do soldado na guerra em nome do interesse maior do Estado, ainda que essa morte resulte em dor para sua família. A morte do soldado é compreendida pelo utilitarismo ético, de acordo com Sánchez Vázquez (2003, p.169), à medida que contribua para aumentar ou estender a quantidade de bem para o maior número de pessoas. O interesse da família e do soldado está também incluído neste ato, pois são partes da nação beneficiada. Vemos, por esse exemplo, a possibilidade de que algo bom venha a resultar de uma ação que não seja boa para o indivíduo.
De acordo com Sánchez Vázquez (2003, pp. 170-171), há uma dinâmica difícil de solucionar no pensamento utilitarista. Tem-se a afirmação de Francis Hutcheson de que a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos. Temos, por outro lado, o pensamento de Stuart Mill, segundo o qual o útil ou o bom é a felicidade, o que produz mais felicidade. Há um impasse claro: optar pela maior felicidade ara um número menor (Mill), ou o que traz menos felicidade para um número maior de pessoas (Hutcheson)? É no meio social que esse impasse gera conflitos.
Numa sociedade dividida em classes sociais com interesses distintos, o maior número, ou o número dos pobres, dos excluídos, dos menos favorecidos, tropeça nos interesses do menor número, aqueles que têm o poder econômico e de decisão das políticas do Estado. Isso acontece se a felicidade, o poder ou a riqueza se identificar com o conteúdo do útil. Veremos daí que “a distribuição destes bens [a felicidade, o poder, a riqueza] que se julgam valiosos não pode estender-se além dos limites impostos pela própria estrutura econômico-social da sociedade” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2003, p.171), que inclui a correlação de classes, organização estatal e relações de propriedade. Por muito tempo as mulheres não tinham direito a voto, e a educação não era paga pelo Estado. A minoria que tinha o poder não desejava que a grande maioria da população obtivesse esses direitos. Foi John Stuart Mill, quem apresentou essa revolucionária idéia baseada nos princípios utilitaristas da felicidade para a maioria (COBRA, 2001).
No utilitarismo ético vimos que o interesse do indivíduo não é o mais relevante, enquanto interesse isolado. O importante nessa forma normativa (segundo COBRA, 2001) de aplicação ética do bom é o interesse do maior número possível, e é aí que entra o interesse do indivíduo que se sacrifica pelo Estado, como no exemplo do soldado que vai à guerra. O utilitarismo é falho à medida que uma minoria tem o controle do poder no Estado. Logo, temos uma minoria que defende apenas seus interesses. Quando isso acontece, o princípio do utilitarismo como forma de expressão do bom, princípio que defende a felicidade para o maior número possível de pessoas, não está sendo respeitado. Torna-se difícil a observância do objetivo do bom como o útil. Para realmente o bom como o útil fruir, os interesses defendidos deveriam ser o da maioria da população, tudo o que lhes pudesse trazer dignidade de vida, condições humanas, enfim, a felicidade. Concluímos que o bom como o útil, como o único meio de trazer a felicidade para a maioria dos cidadãos não passa de utopia.
Porto Alegre - RS , 11/09/2008,
BIBLIOGRAFIA
COBRA, R. Q. Temas da Filosofia: Resumos, in http://www.cobra.pages.nom.br/ft-utilitarismo.html , acesso em 11 de setembro de 2008.
SÁNCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Ética. 24ª ed. Rio de Janeiro, Civilização do Amor, 2003.
O que é o utilitarismo ético? O que ele defende? A sua designação, de princípio, nos remete a algo que é útil. O uso ou a aplicação do que é útil, geralmente é pensado a partir do particular, do indivíduo. Nesse caso, ligamos esse algo útil ao indivíduo, seu desejo, o que para ele é o bom. Precipitamo-nos pensando assim; o utilitarismo é justamente, em primeira instância, a anulação do desejo do sujeito em benefício do interesse do maior número possível de pessoas. O utilitarismo ético é o bom como o útil, onde não é o interesse do indivíduo que é considerado em primeira instância, mas sim o objetivo maior de uma sociedade, do Estado, ainda que os meios para que o maior número seja beneficiado, resulte na anulação, ou até a morte do indivíduo. A felicidade para o maior número possível é o que importa, independentemente dos meios usados para tal objetivo.
O utilitarismo aceita a morte do soldado na guerra em nome do interesse maior do Estado, ainda que essa morte resulte em dor para sua família. A morte do soldado é compreendida pelo utilitarismo ético, de acordo com Sánchez Vázquez (2003, p.169), à medida que contribua para aumentar ou estender a quantidade de bem para o maior número de pessoas. O interesse da família e do soldado está também incluído neste ato, pois são partes da nação beneficiada. Vemos, por esse exemplo, a possibilidade de que algo bom venha a resultar de uma ação que não seja boa para o indivíduo.
De acordo com Sánchez Vázquez (2003, pp. 170-171), há uma dinâmica difícil de solucionar no pensamento utilitarista. Tem-se a afirmação de Francis Hutcheson de que a melhor ação é a que busca a maior felicidade para o maior número de indivíduos. Temos, por outro lado, o pensamento de Stuart Mill, segundo o qual o útil ou o bom é a felicidade, o que produz mais felicidade. Há um impasse claro: optar pela maior felicidade ara um número menor (Mill), ou o que traz menos felicidade para um número maior de pessoas (Hutcheson)? É no meio social que esse impasse gera conflitos.
Numa sociedade dividida em classes sociais com interesses distintos, o maior número, ou o número dos pobres, dos excluídos, dos menos favorecidos, tropeça nos interesses do menor número, aqueles que têm o poder econômico e de decisão das políticas do Estado. Isso acontece se a felicidade, o poder ou a riqueza se identificar com o conteúdo do útil. Veremos daí que “a distribuição destes bens [a felicidade, o poder, a riqueza] que se julgam valiosos não pode estender-se além dos limites impostos pela própria estrutura econômico-social da sociedade” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 2003, p.171), que inclui a correlação de classes, organização estatal e relações de propriedade. Por muito tempo as mulheres não tinham direito a voto, e a educação não era paga pelo Estado. A minoria que tinha o poder não desejava que a grande maioria da população obtivesse esses direitos. Foi John Stuart Mill, quem apresentou essa revolucionária idéia baseada nos princípios utilitaristas da felicidade para a maioria (COBRA, 2001).
No utilitarismo ético vimos que o interesse do indivíduo não é o mais relevante, enquanto interesse isolado. O importante nessa forma normativa (segundo COBRA, 2001) de aplicação ética do bom é o interesse do maior número possível, e é aí que entra o interesse do indivíduo que se sacrifica pelo Estado, como no exemplo do soldado que vai à guerra. O utilitarismo é falho à medida que uma minoria tem o controle do poder no Estado. Logo, temos uma minoria que defende apenas seus interesses. Quando isso acontece, o princípio do utilitarismo como forma de expressão do bom, princípio que defende a felicidade para o maior número possível de pessoas, não está sendo respeitado. Torna-se difícil a observância do objetivo do bom como o útil. Para realmente o bom como o útil fruir, os interesses defendidos deveriam ser o da maioria da população, tudo o que lhes pudesse trazer dignidade de vida, condições humanas, enfim, a felicidade. Concluímos que o bom como o útil, como o único meio de trazer a felicidade para a maioria dos cidadãos não passa de utopia.
Porto Alegre - RS , 11/09/2008,
BIBLIOGRAFIA
COBRA, R. Q. Temas da Filosofia: Resumos, in http://www.cobra.pages.nom.br/ft-utilitarismo.html , acesso em 11 de setembro de 2008.
SÁNCHEZ VAZQUEZ, Adolfo. Ética. 24ª ed. Rio de Janeiro, Civilização do Amor, 2003.
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