segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jornalismo e segundas intenções: A Veja, meu professor, e eu.

“Nem bem havia lido, e já havia entendido o recado”. É por aí que caminham os artigos da maioria de nossos jornais e revistas, postados diariamente com a nobre intenção de “vender” informação (e pregar determinada ideologia) sem nem permitir uma visão no mínimo razoavelmente crítica, da parte do leitor. Não é estranho encontrarmos críticas a quem profere críticas ao círculo vicioso dos jornais, bem como não é estranho encontramos mestres e doutores (não somos todos mestres e doutores em alguma coisa?) que crêem fidedignamente nas informações de nossos meios de comunicação.

Não sou pessoa formada em comunicação social, de modo que não tenho lá muita autoridade para proferir críticas acerca de jornais, revistas, etc. Mas um direito eu tenho: falar sobre minha opinião (embora não tenha sido incitado a isso na formação escolar, e muito menos o seja positivamente por qualquer meio de comunicação de alcance mais geral, no meu Brasil) e postar minha crítica livre a respeito do tema. Na intenção de alcançar o objetivo deste texto, me permitirei expor exemplos.

Uma pessoa muito boa, com quem tenho a honra de ter boas aulas de História geral (não cabe aqui citar seu nome), algumas vezes trouxe artigos da revista Veja aos nossos encontros. Nunca compreendi como negativa sua atitude, mas me sentia de certo modo agredido quando sua opinião era tal qual a da revista. Por ter o periódico uma tendência elititária clara, acerca dos mais diversos temas, não compete a qualquer professor expor tal posição sem mostrar uma visão que encaminhe a outras conclusões. Cheguei a comentar essa opinião minha ao professor, que, creio eu, pensou, naquele momento, que minha intenção tenha sido prejudicar seu trabalho.

A missão do professor não é dizer ao educando no que deve acreditar ou não, mas oferecer ao estudante os mais diversos caminhos para que ele mesmo, dentro das clarezas das informações aprendidas, decida no que acreditar e que seguir. Mas voltemos ao nosso objetivo.

Dias depois da conversa com o professor acerca da tal revista, saiu uma edição desta, acerca do filme Tropa de Elite. Havia assistido ao filme, e logo tido acesso a um artigo denominado Tropa de Elite: a Criminalização da Pobreza (a edição da revista veio dois dias depois de eu ter tido acesso a esse artigo), mostrando, de acordo com o autor, Ivan Pinheiro, a intenção fascista do filme, que objetivava colocar medo, e mais, criminalizar a pobreza; onde o filme for assistido - nas palavras do autor -, “estará contribuindo para que a sociedade se torne mais fascista e mais intolerante com os negros, os imigrantes de países periféricos e delinqüentes de baixa renda”. O autor afirma à respeito da mídia “que no Brasil, a mídia burguesa há muito tempo trabalha a idéia de que estamos numa verdadeira guerra, fazendo sutilmente a apologia da repressão. Sentimos isso de perto”. E questiona: “quantas vezes já vimos pessoas nas ruas querendo linchar um ladrão amador, pego roubando alguma coisa de alguém? Quantas vezes ouvimos, até de trabalhadores, que ‘bandido tem que morrer’?”.

Assim que li o artigo, confirmei uma velha impressão que tinha acerca da naturalização da repressão. Ouço muito a afirmação de que “bandido tem que morrer”, e não encontro respostas, pois ainda acredito que como cristãos não devíamos fazer esses juízos, pois são contra nossa fé. Afinal de contas não foi um “bandido” desses que tinham de morrer que trouxe a boa notícia, ao anunciar o Reino de Deus? Não me digam que Jesus foi uma coisa e esses que “têm de morrer hoje” são outra. Jesus mesmo foi visto com o maior criminoso de sua época.

Depois de ter tido acesso a esse texto, o professor, do qual já fiz referência, trouxe e expôs a matéria da revista Veja acerca do mesmo tema. O texto trazia uma posição totalmente contrária ao artigo que eu havia lido. Senti aí fascismo na própria reportagem, e percebi que a crítica que Ivan fazia à mídia burguesa se encaixava perfeitamente com aquela reportagem. Comentei com o professor o artigo que eu lera e que, em virtude dessa crítica, tinha outra visão acerca do filme.

Ainda sobre a revista Veja, encontrei na coluna do jornal Zero Hora de 26 de outubro de 2007, assinada por David Coimbra, um comentário que resume bem a postura dessa revista. O texto denominado “As Vejas que vi” fala de duas reportagens sobre Che Guevara realizadas, uma em 1997, e a outra em 2007. Em 1997, Dorrit Harazim, na reportagem com base em documentos e entrevistas, intitulada O Triunfo Final de Che, fala de Guevara como alguém, “bonito, destemido e morreu jovem, defendendo conceitos igualmente jovens, como solidariedade e a justiça social”. David comenta que, na Veja de 2007, intitulada “Che: há 40 anos morria o homem e nascia a farsa”, “os autores não saíram para fazer a matéria e retornaram com a convicção de que Che foi um monstro”. Che foi descrito como um ser desprezível. David se pergunta: "em qual Veja devo acreditar? Por algum motivo a Veja mudou”, diz o autor, “Falo do Jornalismo da Veja, da carne da Revista”. Essa revista “parece preocupada mais em provar seu ponto de vista do que em contar o que está acontecendo. Como, então, posso ter certeza de que a cobertura da crise no Senado não estava eivada por alguma segunda intenção, como dá a entender a edição reservada ao Che?”.

Queria que o meu professor tivesse abertura para outras possibilidades e visse que a Veja não é a revista que vai salvar o mundo e que há ideologia demais em sua “pregação”. Está bem clara sua postura nos exemplos da “Tropa de Elite” e do “Che”. E se o próprio comentário de David - que é Jornalista e se diz leitor antigo da revista Veja -, aponta essa postura da revista, o que mais falta para percebermos que existe sim uma pesada força que tenta vender idéias e pregar, além de costumes, formas de agir, senão de comportar-se na sociedade?

Porto Alegre - RS, 2007.

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